Cirurgiões de árvores

Ele chegou perto dela. Circundou-a. Olhou-a bem, com um olhar clínico. Pegou nas cordas. Entrelaçou-as nos seus longos e altos braços e suspendeu-se nela, preso por um colete de segurança. Depois, aos poucos, começou a escalada. Em pouco mais de cinco minutos tinha chegado ao topo da árvore, de serra em punho, pronto para fazer a poda selectiva.

Ele chegou perto dela. Circundou-a. Olhou-a bem, com um olhar clínico. Pegou nas cordas. Entrelaçou-as nos seus longos e altos braços e suspendeu-se nela, preso por um colete de segurança. Depois, aos poucos, começou a escalada. Em pouco mais de cinco minutos tinha chegado ao topo da árvore, de serra em punho, pronto para fazer a poda selectiva.

Em Portugal há poucos "cirurgiões de árvores". Na sua maioria são jovens, que sabem tratar com delicadeza qualquer árvore de grande porte. Na Escola Beira Aguieira (EBA) os três monitores do curso aprenderam com os melhores, "lá fora, em França", a escalar e a podar selectivamente as árvores ornamentais mais altas e por isso mais difíceis de tratar. Não é necessário muito esforço físico, "o mais importante é aprender a técnica de escalada". Subir a uma árvore apenas com a ajuda de uma corda, um "boudrier" e a força dos braços e pernas pode ser complicado se não se apreenderem as técnicas nas primeiras aulas. Passada essa fase, facilmente se chega ao topo das árvore e se cortam os ramos que a desfiguram e a tornam feia. 
Estes homens dão vida ás árvores. Apenas com as mãos, com a motosserra e com a sensibilidade que um podador desta natureza deve ter, conseguem prolongar a vida de algumas espécies e melhorar muitas outras.
Este curso pioneiro, leccionado em França, onde existem muitos e bons técnicos nesta arte, tem, desde Junho de 1999, a sua versão portuguesa. Os três alunos formados foram os monitores dos novos formandos. A EBA, sediada em Mortágua, avançou assim com um projecto que permitiu formar técnicos em arboricultura, os "cirurgiões de árvores", profissionais que vêm colmatar uma lacuna no mercado português. Desta forma tenta-se suprimir a falta de técnicos que se dediquem ao estudo e tratamento das árvores ornamentais em espaço urbano, tentando evitar que continuem a existir podas mortais para muitas das árvores de arruamentos e outros espaços urbanos e o abandono de outras que se situam em matas e parques citadinos.
O projecto foi financiado pelo Programa Comunitário Emprego / Eixo Youthstart, ao longo de 1998 e 1999. Como parceiros a Escola Beira Aguieira (promotor) teve as câmaras municipais da região centro, o Jardim Botânico de Coimbra, o Instituto de Conservação da Natureza (Coimbra) e o CFPF de Chateauneuf du Rhone (instituição francesa que fez a formação em arboricultura).
O primeiro curso de formação em "Cirurgia de Árvores" teve como local de actividade a Mata Nacional do Bussaco. Com início em Junho do ano passado, teve a duração de cinco meses. Este curso piloto pretendeu formar pessoas capazes de efectuar todos os trabalhos de escalada, poda selectiva, acompanhamento e conservação de árvores quer ornamentais, quer de grande porte.

As origens
"Em Portugal não havia técnicos nesta área da escalada e poda selectiva", afirma Francisco Coimbra o coordenador do projecto. "O que é isto da escalada e poda selectiva? Não é mais do que uma adaptação das técnicas de escalada em montanha à poda das árvores. Há um belga em Sintra - que foi o primeiro a trabalhar em Portugal - desde há dez anos e que é uma referência nesta área", continua. Segundo Francisco Coimbra houve outro técnico - um inglês - a trabalhar na Fundação de Serralves, mas que voltou
para o seu país. "Ainda antes deste projecto a associação FAPAS (Fundo para a Protecção dos Animais selvagens) promoveu uma formação de técnicos para sensibilizar as pessoas nos cuidados a ter com as árvores. Foram também eles que traduziram, para português, o primeiro livro sobre o tema".

Reconhecimento legal da profissão: que futuro?
Francisco Coimbra está optimista em relação ao futuro da profissão dos Técnicos de escalada e poda selectiva. O facto de ainda não ter sido homolgada está a ser contornado pelo trabalho no terreno. "Neste momento os nossos ex-alunos estão no terreno em conjunto com mais estas pessoas de quem já falámos. Já se formaram algumas empresas com base no trabalho realizado por elas e essa situação vai impondo a profissão no terreno".
"Que nome dar então a este profissional?", pergunta o coordenador deste projecto, "Escalador / Podador de árvores ornamentais poderia ser uma boa escolha". Neste momento decorre no Instituto de Emprego e Formação Profissional o processo de acreditação / reconhecimento do curso e profissão respectivamente. "O futuro passa também pela criação de escolas municipais de arboricultura. A formação do pessoal que já trabalha nas autarquias é também um passo importante". Um impulso significativo surgirá quando a Câmara Municipal do Porto concretizar, em parceria com a FAPAS, uma escola de arboricultura. Para já "foi criada uma sociedade portuguesa de arboricultura que também tenta dinamizar e acreditar esta profissão".

Ele chegou perto dela. Circundou-a. Olhou-a bem, com um olhar clínico. Pegou nas cordas. Entrelaçou-as nos seus longos e altos braços e suspendeu-se nela, preso por um colete de segurança. Depois, aos poucos, começou a escalada. Em pouco mais de cinco minutos tinha chegado ao topo da árvore, de serra em punho, pronto para fazer a poda selectiva.

0 commentários

Deixe um comentário

O seu email não será publicado. Os campos requeridos estão marcados.

CAPTCHA
ATENÇÃO: O código CAPTCHA é sensível a maiúsculas e minúsculas. Digite exatamente como aparece na imagem.